quinta-feira, 17 de maio de 2012

O CABELO BRANCO




Muitos acreditam que o carimbo no passaporte para a vida adulta é ter um filho. Outros dizem que sair da casa dos pais é o grande marco. Ter um emprego e ser responsável pelas próprias farras, casar...são tantas opções!  Talvez você marque um “x” em todas. Ou não.
Talvez o grande momento ande longe dos flashes para aquela foto de casamento que estará durante um  bom tempo no criado-mudo ao lado da cama do casal. Ele não pede tanta gente assim.  Não tem tanto público quanto um nascimento de um filho. Na verdade, é quase imperceptível . Discreto. Silencioso. Gosta de chegar de mansinho., bem mineiro.
Foi assim comigo. Anota aí: 25 de setembro de 2011. Data em que meu “passaporte”  foi oficialmente carimbado. Cenário: banheiro. Personagens: eu e ele. Adereços: espelho e pente. Esse foi o momento. Nada de romantismo, sem aviso, sem trilha sonora. De repente, estávamos cara-a-cara: eu e meu primeiro cabelo branco.
PASMA. Minha cara de “nada” traduzia aquele momento.  A partir dali, surgiu uma porção de perguntas. Parecia que eu havia voltado àquela fase dos “porquês”, só que ali era tudo novo. Naquele momento eu pude ter a certeza de que minha vida havia mudado de vez.
Dizem que pouco antes dos 30 é que a vida realmente acontece.  Os amores mais loucos, as paixões descontroladas, o esforço incessante para fazer carreira, o reconhecimento do papel da família e da importância real dos amigos.
É a vida de ponta-cabeça se ajeitando aos poucos. É o gostinho de vodka na boca e a preocupação com o trabalho do dia seguinte. É , de repente,  perceber que restam  pouquíssimas solteiras  na turma. É um dia, ao olhar-se no espelho e dar de cara com o primeiro cabelo branco! 
(Vanessa Atem)

Tão “sei lá”


Você aí, já ouviu alguém falar que estava “tão assim, sei lá”? É o mais interessante estado emocional de um ser. É a personificação do NADA. É quando não existe pergunta nem resposta e você tá lá, entre uma coisa e outra. Um meio termo que nem acalma nem agita. Tranquilidade agonizante. 

Temos dias bons e dias ruins e temos também dias “tão sei lá”. Não há cobrança, mas existe uma certa nostalgia. Talvez um certo otimismo camuflado no amanhã que parece tão distante.

Em dias assim, a gente usa qualquer roupa, diz tanto faz para o sabor do suco, faz coisas do nada, fala sobre coisas mornas e torce para que o mundo se decida logo: ou vai ou racha. 
(Vanessa Atem)

Piscinas, poços ou abismos?


            Sentir-se seguro fica mais distante na proporção que aumenta nosso IQC “Índice Quebrador de Cara”
            Era tão simples poder confiar. Confiar cada vez que eu ia pra piscina com papai e ele dizia “Pula, Dedessinha” (sim, ele troca os nomes das filhas...rsrs). Eu pulava na “piscina dos adultos”, a “piscina funda” e tinha plena convicção q sairia de lá sã e salva,  fosse pela minha boia ou pelo meu super-papai!
            Era uma aventura frequentar essa parte do clube destinada aos adultos...MAS a gente também vira gente grande e um dia começamos a pular em piscinas mais fundas e sem ter ninguém para nos amparar. É o cada um por si e (tomara) Deus por todos!
            Às vezes, o pulo não passa de diversão consciente, outras de opção inconsciente e certas vezes o pulo é apenas um ato de fuga, de tentar ver quem talvez esteja lá, caso você afunde de vez.
            Quanto a afundar, faz parte. Não quando se é criança, mas quando a gente passa a entender melhor que o mundo é pior do que a gente poderia imaginar. Algumas vezes, trocamos piscinas por poços. Lá não tem luz, não tem ninguém a não ser você. E não é tão legal.
            De vez em quando aparece alguém e te observa lá embaixo, mas todos estão ocupados demais cuidando de seus problemas, conflitos emocionais e contas a pagar e de boa, ninguém vai querer perder o sol brilhando em cima pra tentar convencer quem tá em baixo a sair.
Aquele cuidado e dedicação que nos confortou a infância toda, vai se perdendo juntamente com as lembranças de um mundo que um dia já foi o melhor e mais perfeito lugar para se viver.
Todos nós temos nossos pequenos refúgios quando  acreditamos que nada mais dá certo, que o mundo conspira contra a gente, quando temos o coração partido ou quando partimos o de alguém e bate aquele lance de “consciência pesada”.
Ultimamente tenho evitado pular em piscinas sem observação de alguém. Tô preferindo saltar de abismos pra ver o que encontro lá embaixo, porque de poço, pra mim, já chega!!
(Vanessa Atem)

Sobre certezas e lebres


Sinto a cada nascer e pôr de sol que não conseguirei saber como se faz para ter certezas na vida. Pra mim, isso faz parte de um processo que a pouco descobri: admitir coisas pra mim mesma.
Só que isso é complicado, porque quando se admite algo pra alguém, você só precisa agir pra alguém perceber ou falar alguma coisa. E quando é de você para você, parece q esse processo não funciona bem., porque ao mesmo tempo em que tem que  admitir também tem que perceber. E isso se faz ao mesmo tempo quando uma pessoa só é encarregada desse processo todo?
Até onde vai minha atenção e em que ponto eu baixo a guarda e deixo o orgulho de lado para aceitar que certas situações foram criadas por mim e que tenho que conviver com todas elas?
Saber que certas coisas não têm mais jeito de serem resolvidas como eu gostaria me angustia e me faz me sentir uma coisa tão pequena...tão insignificante. Um ser falho.
Lembro do livro Alice no País das Maravilhas ( li o livro, vi o desenho da Disney e o filme também). Acho fascinante quando Alice cai no buraco. Intrigante como Lewis Carrol consegue descrever como me sinto de vez em sempre. Onde posso encontrar um buraco pra cair de vez em quando  e mudar meu foco para outro farol?
Enquanto a gente tenta achar soluções para determinada coisa, outras coisas vão acontecendo no caminho e outras atitudes são necessárias. Isso vai virando essa bola de neve que as pessoas costumam chamar de “Vida”.
Enquanto nenhuma lebre aparece, vou tentando me concentrar naquilo que está me perturbando, procurando respostas que eu sei que não terei tão cedo, ou talvez nunca, o que é o mais provável. 
(Vanessa Atem)